NÃO HÁ VAGA.
E ela deu à luz o seu primogênito. Envolveu-o em panos e o colocou
numa manjedoura, porque não havia lugar para eles na hospedaria. (Lucas 2.7)
Esta passagem me fez lembrar de uma história que ouvir a
muito tempo. Era sobre um garoto tímido conhecido por Bile; e, que fora convocado
a participar da peça infantil tradicional (sem direito a recusa, pois era
importante que todos os alunos participassem); que a escola apresentava todo
Natal. O tema era sobre o nascimento do menino Jesus.
Bile era o mais fraco do elenco. Ele poderia pôr a perder todo
o trabalho. Sugeriram seu afastamento, mas a diretora não aceitou. Só havia uma
saída; era dá a Bile o menor papel possível; um que ele falasse quase nada ou
nada. Então escolheram o de porteiro da hospedaria. Ele só teria que dizer: “Não”.
Isso mesmo. “Não”, na hora em que José e Maria pedisse um quarto.
Chegou o grande dia, o teatro da escola estava lotado. Os alunos,
todos vestidos a caráter passam a “limpo” as encenações dos scripts pela última
vez. Estava tudo na ponta da língua, não tinha como dá errado; a não ser, se o
nosso “elo mais fraco” – o Bile, desse uma “bandeirada”; contudo, a turma
estava tranquila, uma vez, que, o papel dele era só para dizer: “Não”. Seria impossível
dá errado. Tudo bem então.
A peça começou, tudo estava indo como previsto. Todos fazendo
tudo certo. Uma maravilha. Chegou a hora em que José e Maria abordou o porteiro
da hospedaria (o Bile), depois de ter batido à porta, perguntando se tinha um quarto
disponível. A turma toda cruzou os dedos; o nosso querido Bile não pestanejou,
e disse sem hesitar: Não. Que alivio. Todos os garotos inclusive a diretora deu
um suspiro de alivio. Bile fez exatamente o que todos esperavam. Beleza.
Mas, quando José olhou para Maria com profunda tristeza e preocupação
por não ter como alojar sua mulher naquela momento tão necessário; e Maria
acariciando seu ventre deu a mão a seu esposo e foram saindo cabisbaixo, Bile ao
invés de fechar a porta como previsto no script, deu uma de herói e quebrando o
protocolo gritou – “esperem, esperem”. Maria e José, a
alguma distância, voltaram-se para o porteiro da hospedaria completamente
surpresos. Foi quando Bile num gesto puramente humilde e compassivo disse: “podem ficar com o
meu quarto”.
Você pode imaginar a cara da diretora e da turma toda da
classe, por Bile ter estragado tudo? Era só para ele dizer “não” e fechar a
porta; mas não, ele tinha que estragar tudo.
No entanto, após esse tão sofrido e decepcionante momento,
veio o que menos se esperava; todo o teatro ficou de pé; e, aplaudindo diziam “bravo, bravo, bravo”; pelo gesto
maravilhoso com que Bile tivera para com Jesus. Só restava a turma toda
aproveitar o embalo e com alegria agradecer os aplausos pelo desfecho inédito da
peça que agradou a todos.
O jornal da cidade concebeu grandes elogios a diretoria da
escola, elegendo a peça como sendo a melhor de todos os anos.
A timidez de Bile fez a diferença. A sua humildade valeu
muito mais que toda inteligência.
[Por: Luiz Clédio Monteiro – fev/2018]
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