Era uma vez uma menina chamada Nazareth que viveu abrigada
em uma família abastada no Maranhão. Tornou-se uma moça feliz, íntegra e reta, seguidora
de Maria, ela temia a Deus e evitava o mal. Teve cinco filhos e uma filha no
casamento que teve com um bom homem chamado Luiz que a honrou por toda a sua
vida. Criou também um jovem que ela adotou antes mesmo de seus filhos nascerem.
Possuía ela uma grande ternura pelos necessitados; e, não foram poucos os que dela
receberam ajuda por longos tempos. Ela era a mais rica em misericórdia.
Os filhos de Nazareth costumavam fazer pândegas, aqui e ali,
eram convidados pelos amigos para comer e beber com eles. Quase sempre ela
rezava seu terço para purificá-los. Ela madrugava e oferecia promessas em rezas
para cada um deles, pensando: “Talvez meus filhos tenham pecado, ofendendo Deus
em seu coração”. E ela fazia assim todas os dias. [Jó]
Nazareth, era um modelo de esposa e mãe justa. Acreditava na
teologia da retribuição, Deus lhe premiava com justiça protegendo seus filhos.
Seus filhos se chamam inicialmente de Luiz por causa do nome
do pai, seguido do nome individual de cada um. Começando pelo mais velho: Os gêmeos
- Luiz Carlos e Carlos Luiz, [tendo o segundo falecido dias após seu nascimento];
depois veio, Baltazar, Clédio, houve um espaço de sete anos; em seguida veio, Sergio
e pôr fim, a menina Vera Lúcia. O adotado, que amamos com um verdadeiro irmão
se chama Manoel.
Cada um dos filhos de Nazareth tem o caráter completamente
diferente dos seus irmãos. Eles aprenderam de sua mãe sobre o Reino do céu; e
Jesus, Maria e José. Aprenderam muito com ela sobre a natureza humana. Eles
representam muitos tipos diferentes de temperamentos humanos, e a instrução escolar
não os havia transformado em doutores; exceto a menina Vera.
Todos os filhos de Nazareth a amava; mas ainda assim é
verdade que cada um deles sentia-se atraído por algum aspecto, na personalidade
dela.
Manoel foi o único escolhido de Nazareth, pois não é seu
filho legitimo e foi o primeiro a chegar em casa quando ela ainda não tinha
tido o primeiro parto. Dessa forma, se tornou o líder dos que iam nascendo. Nunca
nos importou conhecer a sua linhagem ancestral, para nós ele é mesmo um irmão
legítimo. Manoel quando menino já era um homem de coração valente, organizado,
ajudava mamãe em tudo e era o seu principal apoio. Ele nunca teve inveja da
capacidade dos outros, raro é ver um irmão mais velho do tipo dele exercendo
uma influência tão profunda sobre seus irmãos mais jovem e nunca ter a menor
inveja deles por serem legítimos. Ele admirava mamãe por causa da consistência
da sua sinceridade e da sua dignidade sem afetação.
Luiz Carlos e Carlos
Luiz os gêmeos – os primeiros dos filhos legítimos. Luiz Carlos foi
apartado do seu irmão Carlos Luiz, que veio a falecer ainda nos primeiros dias
de nascido. Não há muito a ser dito sobre ele, a não ser, que era um irmão
comum. Ele amava mamãe e ela o amava, mas ele nunca contestou as suas ordens e
as de ninguém com perguntas. Luiz Carlos entendia pouquíssimo sobre as
discussões dos seus irmãos, mas rejubila-se por se ver incluído e aceito neste
grupo de irmãos. Na sua mocidade ele era o primeiro nas horas de prestar ajuda
e, de fato, era o servidor geral dos seus amigos e parentes. Ele cuidava de qualquer
pessoa com suprimentos, levava-os para casa quando os via pelas ruas e estava
sempre pronto para dar uma mão e ajudar a qualquer dos irmãos. Ele era
benevolente, não possuía pontos fortes nem pontos fracos. Luiz Carlos amava mamãe
especialmente por causa da simplicidade dela. Ele foi que melhor captou o laço
de compaixão entre ele próprio e o coração dela.
Luiz Baltazar [o
terceiro], podemos chama-lo de - o “incrédulo”. É bem verdade que a sua mente desde
menino era do tipo lógico, cético, mas ele tinha uma forma de lealdade corajosa
que proibia aos seus irmãos de considerá-lo como um cético por leviandade. Quando
jovem, era um exime carpinteiro, com uma faca fazia qualquer coisa de um peça
de madeira; possuía uma mente perspicaz e de bom raciocínio. Ele era realmente
o cientista do grupo. Baltazar nutria um vestígio de suspeita, que tornava
sobremaneira difícil relacionar-se pacificamente com ele. Apesar de as vezes
ele ser mesquinho, desagradável, contudo ele construía brinquedos para nós; e, era
estupendamente honesto e inflexivelmente leal. Ele tinha uma excelente mente
analítica, acompanhada por uma coragem inflexível — A sua grande fraqueza é o
seu duvidar suspeitoso, coisa que ele nunca venceu inteiramente em toda a sua
vida. Baltazar respeitava mamãe por causa do caráter dela tão esplendidamente
equilibrado.
Luiz Clédio [este
que lhes escreve] foi o quarto – caçulo, irmão mais novo por sete anos. Herdeiro
do nome do pai. Podem me chamar de o “arbitrário”. Desde pequeno já gostava de
trabalhar com meu pai e funcionava como o agente pessoal dele para cuidar dos meus
irmãos; e, continuei com essa responsabilidade enquanto fui solteiro. Sendo o
mais jovem dos filhos e mantendo um contato tão íntimo com meu pai, fui muito respeitado
por ele e ansiado por minha mãe, pois eu tinha uma saúde debilitada que requeria
muita atenção. Em vista do fato de que eu cheguei a ser o mais próximo de
papai, eu era o filho em que ele mais acreditava. Meu caráter é a minha
confiabilidade; eu estava e estou sempre disposto e sou corajoso, fiel e
devotado ao trabalho. Mas a minha maior fraqueza é a vaidade característica de
um jovem arbitrário, que se auto surpreendia. Talvez por ser o mais jovem
membro da família, tenha sido apenas um pouco mimado; e, eu tivesse sido
condescendido um pouco demais. A características que eu mais apreciava em mamãe
eram o seu amor e a falta de egoísmo.
Luiz Sergio – [o quinto
filho], podemos chama-lo de o “curioso”. Me desbancou do trono de caçulo. Como a
estrela mais nova da família, em tudo ele queria participar; até nas conversas dos
adultos ele dava palpite; era preciso regra-lo. Quando não tinha onde se meter,
ele se envolvia em experiências farmacêuticas preparando remédios do mato e
queria que a gente tomasse. Sergio foi também, de um certo modo, influenciado
pelo fato de eu ter sido aceito no meio dos negócios de papai. Ele estava sempre
querendo que tudo se lhe fosse mostrado. Ele nunca parecia se ver longe, diante
de qualquer questão. Porem a falta de imaginação construtiva ainda é a sua
fraqueza. A sua característica mais forte é a minuciosidade metódica; é tanto
matemático quanto sistemático. Ele é um homem que pode fazer coisas pequenas de
um modo grande, fazia-as e faz bem e aceitavelmente. Sergio é o homem comum
típico, de todos os dias. A qualidade de mamãe que ele tão continuadamente admirava
era a generosidade infalível dela.
Vera Lucia – a única
filha. Foi um espanto para a família quando viram que era uma menina. Sendo
solteira, era o único esteio dos nossos pais já idosos e enfermos, vivendo com
ela até faleceram. Seus irmãos já eram pessoas casadas e nenhum deles vivia mais
lá, [exceto o quinto]. Ela é a mais bem instruída dos irmãos. Podemos classifica-la
com sendo uma pessoa “sem artifícios”. E, essa é a sua grande virtude; ela é
tanto honesta, quanto sincera. A fraqueza do seu caráter é o seu amor-próprio;
ela é muito orgulhosa, da sua formação, da sua própria reputação e dos seus afazeres;
e, tudo isso seria louvável, não fosse levado tão adiante. Vera, contudo, é
inclinada a ir aos extremos nos seus preconceitos pessoais. Quando está com o
humor certo, é provavelmente a melhor contadora de histórias. Todos seus irmãos
a ama e a respeita. Muitas vezes, quando as coisas estão ficando tensas e
confusas entre nós, Vera alivia a tensão com um pouco de filosofia ou com um
lance de humor; e um humor certamente de boa qualidade. O carecer de Vera é o
de cuidar dos seus familiares. O que ela mais reverenciava em mamãe era a sua
tolerância.
Cada um dos filhos de Nazareth tem um testemunho eloquente
do encanto e da retidão da vida dela, embora houvesse ela desprezado os confetes
e a ambição que os seus filhos alimentavam de exaltação pessoal. E, nos
momentos difíceis, apesar de tudo, ela não pecou e não acusou Deus ou sua amada
Maria de ter feito alguma coisa injusta.
Seus filhos ainda estão todos vivos, na graça da teologia da recompensa
em que tanto ela acreditou. E o pão nosso de cada dia, nunca faltou a nenhum de
nós até hoje.
Amém, amém e amém!
[Por: Luiz Clédio Monteiro – nov/2018]
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