Certo Peregrino Chamado Agur
“Deus nos fez simples e direitos, mas nós complicamos tudo”.
(Salomão. Ec. 7: 29).

Quantos de nós, de vida modesta, desprovido de prestígio político e poder financeiro, possamos vir a ter o seu nome mencionado em livro circulando entre os séculos dos séculos por mais de 3.000 anos? Visto que, no futuro, todos nós seremos esquecidos!
O ismaelita Agur (considerado estrangeiro para o povo de Israel), filho de um desconhecido Jaqué da cidade de Massá na Arábia (governada pelo rei Lemuel de origem egípcia e aprendizado babilônico), foi mencionado no livro de Provérbios (ver cap. 30), tornando-se imortal como os filósofos gregos e as grandes personagens bíblicas.
Agur, assim chamado porque colecionava provérbios, era homem simples, de coração entendido, que ouvia a palavra de Deus e respondia com obediência, mas dizia de si mesmo, ser mais estúpido do que qualquer homem.
Ele não falava em doutrina filosófica e nem espiritual, mas simplesmente das pequenas coisas sendo vivida com imagens fortes. Seu olhar era alerto e sua mente perceptiva, para interpretar a natureza e a humanidade. Ele amava o equilíbrio e listava as coisas no seu clímax, captando a essência da vivência ao redor.
Agur comentou sobre os excêntricos insatisfeitos – como sendo as sanguessugas. Tal são os filhos ingratos, comparados a quatro coisas:
A sepultura, no mundo dos mortos.
A madre estéril, na mulher sem filho.
A terra, que não se farta de água.
E o fogo, que nunca diz: Basta!
Também analisou Agur, sobre as coisas ocultas – a mente desconhecida das pessoas. Tal é o que nega a fé jurada, perfídia ou pérfido, que pratica o adultério, se limpa e diz: não cometi pecado algum. Isto é tão oculto, quanto às quatro coisas que não percebemos:
O caminho da águia no céu.
O caminho da cobra na penha.
O caminho do navio no meio do mar.
E o caminho do homem com uma donzela.
E sobre as coisas insuportáveis disse Agur – são ações de pessoas que causam alvoroço. Elas são como as quatro coisas que não podem subsistir:
O empregado quando se torna sócio do patrão.
O descarado quando anda farto de dinheiro.
A mulher desdenhada quando acha casamento.
E a confidente quando sucede o lugar da outra.
Mas, Agur falou ainda de coisas belas, pequenas e espertas – comparando-as com as pessoas sábias, quando mencionou quatro qualidades dos pequenos seres:
Da formiga, que mesmo frágil prever a provisão com previsão;
Do Arganaz (coelho selvagem), que sem poder, constrói sua casa nas rochas com segurança;
Do gafanhoto, que não tem rei, mas vive em cooperação mútua;
E do geco (lagartixa), que sendo hospede da casa, torna-se útil mantendo os vermes afastados.
Agur narrou às coisas elegantes – confrontando às pessoas graciosas, delicadas na maneira e gentil no falar. São quatro os de atitude airosa que quando andam causam adimiração:
O leão, com sua postura corajosa.
O galo, emproado de peito erguido.
O bode, posto a prumo.
E o governador, pretensioso e amaneirado diante do seu povo.
Aproveito aqui para citar Carlos Drummont de Andrade, acrescentando mais uma pessoa neste grupo tão simpático, refiro-me à mulher amada e carinhosa, que mesmo estando vestida, se traja de singela nudez.
Nas orações, Agur atentava para certos meios de vida que podem facilmente nos afastar para longe de Deus, dizendo assim:
Duas coisas eu te peço Senhor;
Não mim negues, antes que eu morra:
Afasta de mim a falsidade e a mentira;
Não me dês nem a pobreza nem a riqueza:
Dá-me só o pão que me for necessário;
Para não suceder que, estando eu farto, negue-te, e diga: Quem é o Senhor?
Ou que, empobrecido, venha a furtar e profane o Seu Nome.
Agur ficou mais conhecido quando deparou com um erudito de nome Itiel e seu amigo Ucal. Esses homens tinham fama de sabedoria e impressionava. Agur na sua simplicidade silenciou-os quando os desafiou na reposta dos enigmas do domínio das águas e do vento; da impossibilidade do subir e descer ao céu e de alguém medir a terra.
Agur então afirmou: “Toda palavra de Deus é pura; ela é um escudo para os que nela confiam”. Aconselhou-os a nunca acrescentar nada sobre as Sagradas Palavras de Deus, para que não acontecesse de ser chamado de mentiroso.
Agur comparou as pessoas que acrescentam ou tiram algo na palavra de Deus como um empregado que calunia o seu patrão; como os que ameaçam os seus pais e não bendizem as suas mães; como os que têm os olhos altivos, pálpebras levantadas e os dentes como espada, cujas queixas são facas para consumirem na terra os aflitos e os necessitados entre os homens. E os aconselhou a taparem a boca com as mãos, porque o bater do leite produz manteiga, o torcer do nariz produz sangue e o açular a ira produz contendas. Para que não caiam na reprovação divina e venham a morrer e não tendo quem o sepultem, os corvos possam arrancar-lhes os olhos e dar aos pintãos para comer.
Alguns sugerem que Agur era outra designação para o próprio Salomão. Com base em certa lenda (li em algum lugar), Salomão a se ver perdido pelo pecado da ganância brutal do trono e destituído de sua riqueza pelas dívidas com os fenícios, foi viver no deserto com nova identidade. Peregrinando pelos povoados, reflexionava provérbio, mas cuidava para o povo não atentar à sua sabedoria humana e sim, para que estivessem voltados para a “Palavra do Senhor – que é perfeita.” Ele desafiava eruditos aconselhando-os a servir ao Senhor em verdade, obedecendo a seus mandamentos.
Salomão havia se deixado levar pela sabedoria humana, por pura vaidade e arrependido, dizia: “Deus não está comigo; sou mais animal do que gente; não tenho a inteligência que deveria ter; nunca aprendi a ser sábio; não conheço Deus”.
Quando enfrentou Itiel e seu amigo Ucal, com perguntas que eles não souberam responder, ele fez menção sobre sua origem verdadeira, citando Moisés na passagem do mar Vermelho e nos 10 mandamentos no monte Sinai. Josué (que parou o movimento da terra), falou de se próprio (Salomão), de seu pai (Davi) e da sua pátria amada Israel e concluiu ser uma pessoa que pensava ser pura, mas que a sua sujeira ainda não havia sido lavada ainda.
Não se sabe quanto tempo ele perambulou pelo deserto, mas à lenda conclui que Salomão foi encarcerado e estando sumamente desgraçado, clamou a Deus dizendo:
Estou fraco, ó Deus,
Estou fraco:
Estou consumido.
Deus ouviu sua oração, perdoado foram os seus pecados, ele voltou ao seu palácio e toda sua riqueza foi restaurada.
Salomão então escreveu o livre Eclesiastes (o pregador), a história de um homem sem Deus, e a chave que o interpreta é que precisamos obedecer a Deus porque Ele pede conta de tudo a todas as pessoas.

Luiz Clédio Monteiro Filho
25/Dezembro/2004

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