Por: Luiz Clédio Monteiro
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Em 1986 trabalhava comigo, certo rapaz de cor negra, franzino, humilde que foi injustiçado por meu sócio com meu consentimento quando pusemos toda a culpa sobre ele, de ter antecipado propositalmente as datas de vencimentos das faturas de certo correntista, o que o levou a ser demitido, atendendo exigência do correntista que pedia punição para o culpado do contrario cancelaria a conta e, diga-se de passagem, era milionária e representava 90% do nosso faturamento (US$1,5milhão anual).

Éramos dois sócios e esse rapaz, era assim como mascote, muito amado pelo nosso cliente, e estava ali por exigência do próprio correntista em reconhecimento pela sua capacidade operacional; de forma, que, foi uma grande decepção para o correntista quando soube que o “culpado” era exatamente o rapaz que eles tanto confiavam. Isso agravou mais o nosso pecado pela calúnia está envolvendo justamente os que mais o prestigiava. Foi duro para o rapaz.

Provérbio diz que, todos os caminhos são lícitos para os homens, porem o Espírito do Senhor pesa a justiça. Assim, pouco tempo depois, fui traído pelo meu sócio. Ele havia montado em sigilo outra empresa similar a nossa criando conflito de interesse. Mas, o negocio dele nunca prosperou vindo a fechar; e ele mudou de ramo.

Tempos depois, sua esposa veio a falecer num acidente de carro.

Mais na frente nossa empresa sofreu um golpe traiçoeiro através do gerente da nossa conta bancária, subornado por um concorrente; com isso, tivemos que rescindir o contrato milionário com nosso cliente, vindo nossa empresa a fechar as portas. Assim eu também tive que mudar de ramo.

Paralelamente o rapaz que havíamos demitido com injustiça, prosperou como empregado em outra empresa do mesmo ramo; com passar dos anos, tornou-se dono da sua própria empresa. O rapaz com toda sua singeleza foi o único que permaneceu naquela atividade até hoje. Deus é justiça e não negará bem algum aos que vivem corretamente...

Nunca mais tinha visto esse rapaz, só sabia dele através de notícias de amigos em comuns. Entretanto nunca havia esquecido o episódio e às vezes em minhas orações eu pedia perdão a Deus, mas sabia que tinha que fazer isso um dia pessoalmente.

Mas hoje, 06 de jan\2009, 23anos depois, as 17hrs no pátio de um supermercado um homem negro, forte, meio calvo, beirando os 40, trajando camiseta branca cavada, que permitia poder mostrar seus bíceps avantajados, segurava a mão de uma criança; cumprimentou-me falando meu nome. Pelo físico aparente, não o reconheci, porem pelo tom da sua voz lembrei-me logo de quem se tratava; era o dito rapaz em pessoa. Aquele negrinho franzino do passado havia se tornado um homem vigoroso cheio de saúde.

Retribui cuidadosamente os cumprimentos e procurei estender o papo a fim de sondar e se possível encontrar um momento para falar do drama do passado. Hoje mesmo havia me lembrado dele e a necessidade de ter que lhe pedir perdão; embora isso já não me incomodasse tanto como no passado, pois ao lembrar, alegava que a vida nunca havia me dado uma oportunidade. Hoje, no entanto estava eu ali na frente do “rapaz” que nem imaginava agora homem.

Não é fácil quando do nada, um fato acontecido há 23 anos se apresenta em sua frente repentinamente sem avisar, embora tenha sido avisado, pois, pela manhã quando fui à casa de um senhor contratá-lo para motorista de uma das nossas carretas, sua esposa ao orar por mim depois de eu ter orado pela sua enfermidade, disse-me: “você pensa que veio aqui a procura de um motorista; mas não foi. Não. Você veio como um anjo para mim, e vou lhe retribuí dizendo que o Senhor vai lhe dar hoje aquilo que você tem lhe pedido há muitos anos.”

Só a noite já em casa, foi que me lembrei dessa oração. Na hora eu pensava que Deus iria me mandar uma boa grana para resolver meus problemas financeiros. Pensando bem, Deus mandou algo mais valioso que dinheiro, a libertação. Eu estava 23 anos preso nas mãos do meu próximo.

Então em certo momento pedir licença a ele e fui direto ao assunto; relembrei o ocorrido, assumir toda a culpa disse a ele detalhes da operação nojenta que fizemos e como fizemos para culpá-lo e no fim olhando em seus olhos, perguntei: “amigo, você pode me perdoar o que lhe fiz, estou lhe pedindo perdão, você me perdoa?” Com um sorriso, ele disse simplesmente, “eu te perdou sim. Claro!” Em troca, ele recebeu de presente um forte abraço de um homem que ele mesmo acabara de fazer, agradecido, aliviado e perdoado.

Impedidos, muitas pessoas ainda estão para receber um abraço desses.

Ambos despidos do velho homem; certamente que surgirá entre nós uma nova amizade, pois agora haverá verdadeiramente respeito um pelo outro e quem sabe, poderei falar para ele do amor de Cristo.

Esse rapaz se chama Luiz (meu xará). Que Deus o abençoe ricamente.

Viva a liberdade...

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